11 de nov. de 2007

A comida não é mais a mesma

Nas últimas oito décadas, com a industrialização acelerada e o direcionamento da economia para o consumo de massa, a humanidade passou a experimentar mudanças em seus hábitos alimentares que refletem hoje na qualidade de vida e na saúde das pessoas. Segundo Hector Ricardo Ojunian, especialista em medicina psicossomática, professor da UniSantos e autor do livro Somos o que comemos, como comemos e com quem comemos, essas mudanças foram determinantes para o aparecimento de males que acompanham o homem moderno e que podem ser evitados com uma alimentação correta e uma análise constante de suas emoções.

"Faça de seu alimento seu remédio", o conceito de Hipócrates, considerado pai da Medicina, continua atual. "Para se estar bem, o ser humano precisa comer quando tem fome, beber quando tem sede, dormir quando tem sono, o que parece óbvio demais, mais é uma idéia simples que raramente é seguida", constata o Dr Hector Ojunian.

"Somos dependentes químicos de sal, açúcar e agridoce. O lobby da alimentação sempre terá estes três sabores", diz Hector Ojunian, acrescentando a esta lista o sedentarismo, que considera o mal do Século 21. O homem passou a contar com elevador, controle remoto, celular, carro, aparelhos eletrodomésticos, enfim, uma parafernália de coisas que, ao lhe facilitar a rotina, diminui sua necessidade de movimentação.

Segundo o médico, já está provado que a qualidade de vida após os 65 anos de idade está atrelada 53% ao estilo de vida; 20% ao meio ambiente; 17% à genética e 10% à assistência médica. "Comer corretamente é uma arte. Qualquer tipo de indivíduo pode estar se alimentando errado, mas não necessariamente estar acima do peso".

Para manter um corpo saudável, Hector Ojunian recomenda evitar conservantes, acidulantes, sal, açúcar, "é importante controlar tudo o que ingere e pesquisar onde você comprou, evitando o que não seja perecível. Lembre-se que o único patrimônio real é você".

Oito mudanças radicais na alimentação em oitenta anos

Proteína animal – o consumo de proteína vegetal foi sendo substituído por proteína animal. "O consumo da carne bovina é estimulado, pois gera muita renda. O cereal, que era para o consumo humano, foi desviado para consumo diário do gado. Para cada quilo de carne produzido foram consumidos 7 quilos de cereais e 20 mil litros de água potável", diz o médico.

Gordura animal – é a mesma situação, além de dar mais lucro do que a gordura vegetal, tem o apelo de deixar a comida mais saborosa. Ela também está contida nos laticínios.

Sal – o recomendável é consumir uma colher chá por dia no máximo, pois o sódio já está contido em todos os produtos naturais. Salgar os alimentos é um vício que adquirimos desde que nascemos. "Houve um tempo na história em que o sal era imprescindível para a manutenção da vida, pois as pessoas dependiam dele para conservar a carne que serviria de alimento durante o inverno rigoroso. Mas não é mais o caso. O sal interfere na diurese, daí o alto consumo de diurético no planeta. O melhor diurético é comer sem sal".

Açúcar – apesar de o consumo doméstico vir diminuindo, o grande perigo é o açúcar invisível, embutido em todo alimento processado, por ser um excelente conservante. Usa-se açúcar refinado, o que inclui o mascavo, desde o século 19. O refinamento de qualquer alimento aumenta sua durabilidade, por isso o produto integral costuma ser mais caro e mais perecível. Até o cigarro contém 5% de melado de açúcar em sua composição.

Calorias a mais – A troca de alimentos integrais por produtos industrializados fez aumentar a quantidade de calorias ingeridas, mesmo que a quantidade no prato seja a mesma. E pior: calorias sem fibras.

Fibras – o seu consumo foi reduzido, principalmente em leguminosas, e substituído por derivados animais. A falta de fibra diminui o volume e a consistência das fezes, provoca constipação crônica (o normal é evacuar uma a duas vezes por dia), doença diverticular, hemorróidas, aumento do colesterol e até câncer de colo.

Álcool – aumentou o consumo de álcool, que tem como conseqüência física a cirrose hepática, "mais sério ainda são os acidentes de trânsito provocados por motoristas alcoolizados. Beber socialmente, como dizem, tudo bem, o problema é que os adolescentes estão bebendo doses cada vez mais elevadas e achando ótimo. As primeiras células que o álcool apaga são as da inteligência".

Pesticidas, agrotóxico, antibióticos – são drogas usadas na criação de animais e nas plantações para acelerar a reprodução. Elas ficam contidas nos alimentos que ingerimos.

Alfabetização emocional

O analfabeto emocional, na visão de Hector Ojunian, é todo individuo que só pensa e não age. "Saúde é o equilibro físico, mental, econômico, social e meio ambiental. O mau gerenciamento do processo de estresse ocasiona, inconscientemente, a somatização como um mecanismo de defesa". E aí a doença aparece.

A doença, diz, está baseada em um tripé: a culpa, o preconceito e a preocupação com "o que dirão". Isto afeta os indivíduos de um modo semelhante por toda a vida. "Vivemos dizendo coisas que não pensamos e pensamos coisas que não dizemos, o problema começa quando isso vai se acumulando e tomando a forma de doenças como asma, hipertensão, obesidade ...".

A maioria das pessoas tem medo de mudar porque para isso terá que atravessar processos exigentes como perdas, abandonos ou desistência das histórias das quais já estão muito íntimas. "Para que façam essa travessia têm que admitir que precisam de ajuda, vencer a resistência de expor sua história e reciclar o lixo emocional que juntaram no decorrer da vida", ensina o médico, que indica três providências para agregar qualidade à vida hoje e amanhã: conquistar a independência financeira, não engolir sapos e praticar musculação.

Corpo dá sinais de alerta

Da mesma forma que criamos nossas doenças, também podemos promover nosso equilíbrio, garante Ojunian. É necessário prestar atenção aos pequenos sinais e sintomas leves como tremor, falta de ar e palpitações, insônia, taquicardia, dores de cabeça, anorexia, comer compulsivo, que são alarmes avisando que entramos em somatização. "A doença aparece como um alerta para avisar o que o individuo esta vivendo mal sua história de vida. O colesterol sobe quando a pessoa pensa, pensa e não age".

O médico diz que a maioria das pessoas somatiza suas doenças, à exceção das doenças psiquiátricas, das anomalias genéticas e das pessoas que vivem em situação de exclusão social, que pela própria condição econômica tem a saúde afetada.

Obesidade- Problema que já se tornou epidêmico, um dos motivos do excesso de alimentação, afirma o médico, é a insatisfação existente em outras áreas da vida do individuo, que vai procurar satisfação em algo que é permitido, ao mesmo tempo em que se auto-agride. "A obesidade é seguramente um problema de falta de informação. Saber o que está acontecendo com o seu corpo, como e por que a obesidade se instalou, qual o melhor modo de enfrentar a questão é fundamental para a conscientização e posteriormente uma tomada de decisão para emagrecer. Muitas vezes é mais fácil mudar uma dieta do que uma história de vida".

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Fonte: JornaldaOrla.com.br

Um comentário:

  1. Anônimo15:51

    Excelente, vou compartilhar!!!
    Obrigado,
    Gui Lage

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